O que pode e o que não pode no parto - parte 2


Dando continuidade ao nosso papo sobre a revisão das condutas obstétricas, promovida pela OMS - Organização Mundial da Saúde, vamos falar aqui de um grande avanço dessa revisão que foi a confirmação da demanda das mulheres a respeito da episiotomia, o corte que se faz no períneo da mulher para facilitar a saída do bebê.

Há muitos anos as mulheres reclama desse corte, que por aqui os médicos chamam de "pique" ou "cortinho", tentando diminuir o impacto desse procedimento na fisiologia da mulheres.

Segundo as evidências, esse corte não é benéfico em nada para a mulher e deve ser utilizado com muita restrição, somente em casos de extrema necessidade e urgência, de acordo com o caso individual.

Essa conduta não pode ser utilizada de rotina em todas as mulheres, como é o caso de muitos hospitais e maternidades que determinam o uso de episiotomia em todas as primigestas. Existem estabelecimentos de saúde que possuem um protocolo, um roteiro de procedimentos médicos, e nesses protocolos a episiotomia é um item obrigatório que sequer é explicado para a mulher, os médicos fazem e pronto!

Hoje, o conhecimento científico disponível atesta que o uso rotineiro de episiotomia causa mais malefício que benefício. Mulheres que passam pela episiotomia podem ter mais dor no período e na região interna da vagina, falta de lubrificação, dor na relação sexual e maior sensibilidade ao evacuar. Essas sensações podem ser temporárias ou permanentes, e são prejuízos causados pela episiotomia.

Outro procedimento que agora é público e notório que não deve ser praticado é a "pressão manual de fundo uterino", também conhecida como "Manobra de Kristeller". Nessa prática, um profissional de saúde se debruça sobre a barriga da mulher e aperta a barriga para baixo, geralmente com as mãos ou com o cotovelo, empurrando o bebê para baixo.

Essa manobra é perigosíssima para a mulher, pode romper órgãos internos e até quebrar as costelas. Para o bebê também pode haver lesão de plexo braquial e comprometer os movimentos dos ombros e braços de forma permanente.

Já há muitos anos se sabe que essa manobra é prejudicial para a fisiologia das mulheres, desde 1996 o Manual de Boas Práticas Obstétricas considera esse procedimento como proscrito, ou seja, ineficiente e não recomendado. Mas agora essa recomendação para que a manobra de Kristeller não seja feita é mais que oficial por aqui.

Por esses motivos, de tempos em tempos as práticas obstétricas precisam ser revistas. Durante muito tempo se acreditou que a episiotomia fosse de alguma forma benéfica para as mulheres, mas hoje a comprovação é inequívoca de que essa prática causa mais dano e nenhum benefício para a mulher.

É muito importante que os médicos estejam atualizados com essas recomendações.

Compartilhe as novas recomendações com o seu médico, mostre para ele que existe essa evolução nas boas práticas obstétricas e conversem a respeito das condutas que ele pensa em adotar no seu parto.

Recentemente, a FEBRASGO - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia fez um resumo dos itens mais importantes das recomendações da OMS, facilitando a divulgação das condutas revisadas para que todos os médicos brasileiros tenham acesso a esse material e possam se atualizar.


O documento da FEBRASGO está aqui neste link, leve para o seu médico ler:

https://www.febrasgo.org.br/noticias/item/556-cuidados-no-trabalho-de-parto-e-parto-recomendacoes-da-oms


O documento completo produzido pela OMS (em inglês) está aqui neste link:

http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/260178/9789241550215-eng.pdf;jsessionid=181ABAD3948033C27863F00005B8CD95?sequence=1

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