Choro e puerpério
O puerpério é um período muito intenso na vida da mulher. É o famoso pós parto mas não se limita apenas aqueles dias logo depois do nascimento do bebê, o puerpério abrange todo o período em que a mulher está conectada com seu filho, vinculada a ele exclusiva e emocionalmente por meio da amamentação e cuidados.
Nesse período as mulheres são muito exigidas, amamentar continuamente e cuidar do bebê noite e dia pode demandar uma disponibilidade emocional que nem sempre estamos preparadas para assumir. E a sensação de ter que dar conta de tudo às vezes é pesada demais para ser levada sozinha pela mãe - que não raro está literalmente sozinha mesmo.
Compartilho aqui um texto que fala muito desse período e pode nos tocar com sua percepção refinada sobre o que acontece por dentro da mulher nessa fase - principalmente para aquelas que já foram mães e podem se identificar um tanto com suas próprias lembranças do puerpério.
Aí vai: O BEBÊ CHORA O QUE A MÃE CALA - escrito por Bruna Estela
"Bebês que choram sem parar, tendo peito ilimitado, tendo mãe em tempo integral, tendo banho de ofurô, tendo música clássica tocando e ainda assim, eles choram, sem parar?
Não são eles que choram, de verdade. Quem está chorando - por dentro - é a mãe, imersa no caos do puerpério.
A mãe cala o choro e carrega a angústia que dar à luz traz: a responsabilidade eterna de cuidar de outro ser. O fim da mulher que ela era. O nascimento de uma nova mulher, completamente desconhecida. Todo o peso que pôr um filho no mundo significa. E ela cala. A dor é silenciada, porque quase ninguém compreende o peso do puerpério.
O puerpério é uma água represada, que cedo ou tarde precisa ser liberada. O bebê são as comportas abertas.
E essa água vem feito um dilúvio! E o bebê vai chorar. Vai chorar a falta de descanso da mãe. A falta de cumplicidade do marido. A avó que ou se ausenta demais ou se intromete demais. Vai chorar as dificuldades de amamentar. O medo de falhar que a mãe carrega. Vai chorar o corpo que se revela tão disforme.
Nunca se diagnosticaram tantos bebês com cólica, refluxo e alergias, como hoje. Doenças que justificam a mesma coisa: o choro que não pára. Pode ser que hoje a medicina identifique mais casos que antes passavam batidos? Pode.
Mas existe um outro lado também. Nunca a maternidade foi tão solitária como hoje.
Antes, quando a mulher dava à luz, a mãe, avó, tias, vizinhas, se encarregavam de cuidar da nova mãe. Cuidar da casa, da mulher, de ajudá-la. Hoje não.
Parimos (e re-nascemos) e estamos sozinhas.
Coloquem pra fora! Quanto mais externarem, mais seus bebês se pacificarão. E tudo fluirá no curso natural.
Se seu filho chora, olhe pra você si. Olhe para o que dói em você. Pode ser que esse movimento interno cause desconforto. Pode ser que você não consiga se reconhecer. Mas o faça ainda assim!
E chore: o sono, a dor, o parto, o medo, o amor. Tudo isso é intenso demais. Precisa ser vivido, falado e também, chorado.
Peça colo. Se entregue a abraços. Verbalize a dor. Acolha sua fragilidade.
Cuidar de si própria é a primeira forma de amar o seu filho. Só podemos cuidar do outro quando cuidamos de nós."

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