Copinho coletor menstrual

roda de saberes femininos


Já tem alguns anos que eu aderi ao coletor menstrual, o famoso "copinho".

Para quem ainda não conhece, essa é uma alternativa aos absorventes de farmácia (de algodão, embranquecidos e com gel absorvente) e que promove um autocuidado com mais consciência no corpo e na ecologia.

Durante a vida reprodutiva de uma mulher, cerca de 40 anos, ela pode chegar a consumir perto de
10.000 absorventes, o que gera um impacto financeiro importante para a parcela feminina da população. O material usado para fabricar absorventes também demora muito tempo para se decompor e ser naturalmente reciclado pela natureza já que não está apto para ser reciclado em outros processos industriais de aproveitamento.

Mas para além das questões financeiras e ambientais eu queria pontuar um outro aspecto, que é saber para onde vai o SEU SANGUE, o seu material orgânico que contém a sua energia de vida pulsante impregnada ali.

O material descartado na menstruação é o potencial criativo de cada mulher, é com esse material que se formaria um novo ser humano. Imaginem o poder concentrado ali!

E todo mês as mulheres jogam no lixo esse potencial todo. Além de neutralizarem o poder de vida do sangue misturando-o aos elementos químicos e tóxicos dos absorventes tradicionais - que possuem alvejantes, dioxinas e possivelmente glifosato (agrotóxico usado nas plantações de algodão e relacionado a diversas doenças da atualidade) - esse material ainda é descartado de uma forma que que não aproveita seu poder gerador e nutridor de uma forma orgânica.

Muito ao contrário, esse potencial de vida é desperdiçado e colocado para apodrecer nos lixões da cidade.

Isso é muito simbólico, a forma como as mulheres tratam o seu próprio poder.

Sem nenhuma consciência, somos levadas pelas propagandas a desperdiçar essa energia todos os meses. Mas se a gente tiver um olhar maior, o que representam essas mulheres todas agindo na inconsciência e jogando fora o seu poder pessoal, deixando essa potência toda apodrecer do lado de fora das cidades?

Em contraposição a esse modelo muitas mulheres tem por prática "plantar a lua", que consiste em coletar o sangue menstrual e devolvê-lo à terra, diluindo esse sangue em água e regando plantas e sementes e assim fertilizando o solo novamente numa relação de troca saudável com a natureza. É visível a diferença entre plantas que recebem regularmente esse aporte extra de energia.

Outro ponto interessante dessa outra forma de lidar com a menstruação é a diminuição da quantidade de sangue que produzimos a cada mês. Na minha experiência pessoal essa diminuição foi percebida apenas quando decidi usar exclusivamente o coletor, enquanto eu ainda usava o absorvente tradicional eu tinha um fluxo bem intenso e que estava aumentando gradativamente nos últimos anos a ponto de sempre ter episódios de vazamento e roupas manchadas.

Com o uso constante e exclusivo do coletor o que aconteceu foi que a quantidade de sangue de cada ciclo foi diminuindo mês a mês e a qualidade do sangue também se alterou porque eu tinha muitos coágulos e hoje não tenho mais. Cólicas também não tenho mais.

Eu cheguei a ter um diagnóstico de endometriose pela quantidade e frequência dos coágulos, o que tinha me deixado muito triste pois os prognósticos dessa doença não são nada bons. Mas a situação se reverteu naturalmente com o uso constante do coletor.

Além de tudo isso, lidar com o coletor me colocou em confronto com algo importante que era o fato de que eu não me tocava e não conhecia bem minha própria anatomia. Para usar o coletor precisamos nos tocar, nos sentir, criar consciência corporal para sentir se o coletor está bem acomodado ou não, para sentir se o sangue vaza ou não.

Sentir.

Eu não sentia nem eu mesma.

Tudo isso é um processo de resgate para nós mulheres modernas que somos levadas a acreditar que não temos um falo e que nosso corpo é faltante. Na verdade nossa anatomia e nosso reinado são internos, nós temos um cálice dentro do corpo que precisa ser revisitado por cada mulher, ser compreendido, reverenciado e bem utilizado por nós mesmas.

É um grande aprendizado. O que aconteceria se todas as mulheres parassem de usar absorventes industrializados, revertessem doenças e resgatassem esse poder em si mesmas?




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